Agora entendo
Agora entendo, quase tudo: os cravos, as lágrimas, os abraços;as nossas mãos dadas a outras mãos, pelas ruas da cidade, o cheiro a cravo e a nova liberdade. Agora, velho e cansado, entendo todo o significado de um sonho antigo quando ele se concretiza e entendo também quando ele agoniza e se encontra mutilado.
Só me resta entender e limpar os pés e os pós, na soleira da porta da História, e deixar esse lugar de sonho e de glória, que jaz sempre em nós. Sonho que ninguém o pode varrer das calçadas, das ruas e avenidas da lembrança, ondas de um mar adiado, suspenso ainda no coração e na infinita esperança. Cinquenta anos depois eu ainda estou aqui e entendo a usura do tempo nas novas gerações, a memória que morre nos que partem, a perda do significado de muitas canções. Mas os meus sentimentos, agora pelo chão, acabarão por florir, quiçá noutras e novas concepções, talvez na ponta, de novo, de um fuzil…
Sim, agora entendo tudo o que se passou, mas que poderá haver outro tempo febril, mais longe ou mais perto, outra madrugada florida em Abril!
José Carlos Palha, Vila Nova de Gaia
Comemorar Abril
Festejar os 50 anos do 25 Abril é, sem dúvida, importante e imprescindível. Trata-se de um marco glorioso e libertador da nossa história. Contudo, a “Revolução dos Cravos” ainda não terminou. Essencialmente é necessário ter em conta que o 25 de Abril que todos desejamos está por concretizar e exige muito trabalho. É fundamental combater as enormes desigualdades sociais de modo a que os jovens possam exercer as suas actividades profissionais no nosso país. É essencial criar uma sociedade melhor, capaz de criar soluções para desburocratizar, descentralizar, tornar mais fácil. Criar ou adaptar alguns centros de saúde que possam prestar cuidados atempados.
Para bem da democracia será necessário também melhorar as regras eleitorais. Viva o 25 de Abril e todos os que criaram a democracia.
Diamantino Reis, Portimão
O meu 25 de Abril
Encontrava-me de férias militares em Portugal, por estar na Guiné desde 23 Setembro de 1972, aonde regressei no dia 30 de Abril, dia em que regressaram ao nosso país, entre outros, Álvaro Cunhal, José Mário Branco e Luís Cília. Se não fosse o incontornável 25 de Abril, eu e todos os militares que estavam naquele país então colonizado, faríamos à volta de 28 meses de comissão, o que já estava a acontecer, quando, inicialmente, por razões do clima e das condições gerais, se previa uma estada de 18 meses.
Ainda assim, fiz lá 23 meses de serviço militar, diminuição que representa muitos anos de vida, tendo em conta os muitos problemas de saúde com que nos íamos deparando, como o paludismo, a febre-amarela, as bilharzioses, para além do pós-stress traumático com que largos milhares de ex-combatentes ainda hoje se debatem. Não esquecendo, obviamente, os muitos milhares de mortos e estropiados resultantes da guerra colonial que aconteceu entre 1961 e mesmo já depois de 1974.
Assim, também nós, ex-combatentes, temos todos que memorar e comemorar os 50 anos do 25 de Abril, em que muitos camaradas nossos, inclusive na Guiné, participaram activa e decisivamente, porque, caso contrário, os números negros da presença de militares nas ex-colónias ainda seriam bem mais dramáticos. 25 de Abril, sempre! Chega, nunca mais!
José P. Costa, Lisboa
E novas fontes de receitas?
Terminou há pouco mais uma campanha eleitoral. Falou-se de cortes de impostos e de algumas reduções, mas mal se abordou o tema de novas fontes de receita. Com habilidade, todos somos capazes de cortar despesas, mas criar mais-valias, rentabilizar novas tecnologias, ou desenvolver antigos e novos mercados é mais difícil e nem palavra.
Nas inúmeras intervenções não surgiram ideias de novos projectos, nem formas de atrair investimentos que nos ajudassem a combater a nossa persistente pobreza. Nunca se falou de alguns dos nossos melhores activos, como, por exemplo, o mar, a diáspora ou mesmo os PALOP. Qualquer destes temas têm, seguramente, possibilidades imensas para desenvolver projectos e negócios entre falantes em português que por acaso estão espalhados por todo o mundo… Acontece que as despesas são finitas, enquanto receitas são infinitas. Estas dependem só da imaginação e da inspiração de quem gere.
António Carmona Santos, Lisboa