O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou que a abordagem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na guerra na Faixa de Gaza é “um erro” e disse que é preciso uma trégua temporária para permitir a entrega de provisões alimentares e de saúde.
“O que peço aos israelitas é simplesmente que declarem um cessar-fogo, que permitam acesso total a comida e medicamentos durante seis, oito semanas”, declarou Biden numa entrevista que foi gravada na semana passada com a cadeia de televisão Univison e que foi divulgada nesta terça-feira.
“Penso que o que ele está a fazer é um erro”, disse ainda, referindo-se a Benjamin Netanyahu. “Não concordo com a sua abordagem.”
O Presidente classificou ainda como “revoltante” o ataque em que morreram sete trabalhadores humanitários da organização World Central Kitchen, e declarou que “não há desculpa” para a falta de comida e medicamentos para a população da Faixa de Gaza.
A Casa Branca disse na semana passada que Biden ameaçou condicionar o apoio americano a passos concretos para proteger trabalhadores humanitários e civis, lembra a agência Reuters.
Biden tem criticado publicamente Israel com cada vez mais acutilância, e estas declarações são mais uma subida no tom das críticas. Isso não tem, no entanto, tido correspondência com qualquer alteração concreta prática na política de apoio a Israel, com uma excepção a ser a abstenção norte-americana no Conselho de Segurança permitindo a aprovação de uma resolução a exigir um cessar-fogo em Gaza a 25 de Março. Dias mais tarde, era noticiado o envio de “milhares de milhões” de dólares em bombas e caças dos EUA para Israel.
Biden tem sido muito criticado por esta posição, e foi revelado pelo britânico The Independent que houve oito memorandos de responsáveis do Departamento de Estado a expressar opiniões contra a posição da Administração em relação a Gaza nos primeiros dois meses de guerra (durante os primeiros três anos da guerra do Iraque, lembra o jornal, houve apenas um).
Do Reino Unido, Rishi Sunak declarou nesta quarta-feira que o país não irá suspender a venda de armas a Israel, já que “nenhum dos aliados mais próximos o fez”. O ministro dos Negócios Estrangeiros, David Cameron, disse antes que depois de ver a mais recente análise legal não tinha razões para uma mudança em relação ao envio de armas. A pressão sobre Downing Street para uma suspensão vem não só da oposição mas de figuras relevantes do Partido Conservador.
Enquanto isso, continua a existir um espectro de uma operação sobre Rafah, de que as autoridades israelitas já falam desde o início de Fevereiro. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou que já havia uma data para o início da operação. No entanto, como aponta o analista de segurança Yossi Melman na rede social X, o ministro da Defesa Yoav Gallant disse ao seu homólogo norte-americano, Lloyd Austin, que não havia uma data.
Melman considera pouco provável que Israel comece esta operação por estes dias, quando se espera a qualquer momento uma retaliação a um ataque israelita (que Israel não confirma) a um complexo diplomático iraniano em Damasco que deixou sete militares mortos, incluindo um importante general da força Al-Quds.
Muitos analistas consideram improvável que Israel abdique de uma operação em Rafah, onde está uma grande parte da população deslocada da Faixa de Gaza (mais de um milhão de pessoas, algumas estimativas falam em 1,4 milhões, de uma população total de 2,2 milhões) e, segundo Israel, quatro batalhões do Hamas.
A pressão internacional tem sido para assegurar que os civis podem ser deslocados para um outro lugar, com um plano apresentado anteriormente indicando uma “zona segura” em Al-Mawasi a ser considerado insuficiente e demasiado pequeno, ainda assim, algumas pessoas deslocadas foram para o local. No entanto, tanto Rafah como Al-Mawasi têm, apesar de terem sido consideradas zonas seguras por Israel, sido alvo de ataques aéreos.
Quanto à ajuda em Gaza, as autoridades israelitas afirmaram na terça-feira que foram inspeccionados 468 camiões de ajuda humanitária e que estes entraram no território, descrevendo o número como o mais elevado a entrar no território desde o início da guerra.
Mas as Nações Unidas disseram que o número era mais baixo e que alguns camiões não iam totalmente cheios, diz o diário britânico The Guardian.
A entrada de mais camiões, por si só, não resolve a crise. “Continuamos a enfrentar uma longa lista de desafios: bombardeamentos contínuos, operações militares, insegurança generalizada, engenhos explosivos não detonados, estradas danificadas, escassez de combustível, restrições de movimento e recusas de acesso”, disse Jens Laerke, porta-voz do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), na terça-feira, citado pelo Washington Post.
No entanto, Samantha Power, da USAid, disse que está a haver uma mudança em relação à entrada de ajuda em Gaza, “que esperamos que seja sustentada e aumentada”. Com Reuters