Cinco dias depois de uma cesariana sob enorme pressão, Sabreen Jouda, uma bebé prematura que nasceu no sábado, já depois da sua mãe ter sido morta, acabou também por morrer num hospital na Faixa de Gaza, esta quinta-feira.
Um bombardeamento israelita atingiu a casa da família em Rafah, pouco depois da meia-noite de sábado, matando a mãe, Sabreen al-Sakani, o pai e a irmã de quatro anos. As equipas de emergência levaram as vítimas para um hospital na região, onde fizeram uma cesariana de emergência a al-Sakani, grávida de 30 semanas (quase sete meses), salvando a bebé.
Alguns órgãos de comunicação, como a Al Jazeera e da Deutsche Welle, rapidamente consideraram o salvamento da bebé um “milagre”.
Sabreen Jouda foi colocada numa incubadora na unidade de cuidados intensivos, no hospital Emirati, mas acabou por morrer. À Associated Press, o tio, Rami al-Sheikh, contou que a bebé foi sepultada ao lado do pai.
“Deus tirou-nos algo mas deu-nos outra coisa [a bebé] em troca. Mas agora tirou-nos tudo. A família do meu irmão foi completamente dizimada. Foi apagada dos registos. Não sobrou nada dele”, lamentou al-Sheikh, ao lado do cemitério onde agora estão a sobrinha de cinco dias e o pai.
Várias unidades hospitalares inoperacionais
Os bombardeamentos israelitas têm colocado sob enorme pressão os hospitais da Faixa de Gaza, e muitas unidades hospitalares encontram-se completamente inoperacionais. Dezenas de bebés recém-nascidos foram encaminhados para o hospital de Rafah, especialmente depois os hospitais no norte do enclave palestiniano terem sido atacados constantemente por Israel.
As forças israelitas têm argumentado que, debaixo dos hospitais, encontram-se túneis de onde opera o Hamas, e acusam as autoridades de saúde, de emergência e até organizações não-governamentais de servirem de “escudos humanos” para os militantes do grupo. Recentemente, a UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinianos, disse que Israel ainda não apresentou quaisquer provas para fundamentar as alegações sobre a agência humanitária e um suposto conluio com o Hamas.
Mais de 34 mil palestinianos foram mortos pelos ataques israelitas desde o dia 7 de outubro, quando Israel iniciou uma ofensiva à larga escala na Faixa de Gaza. As condições de vida, que já eram precárias, tornaram-se ainda mais difíceis após o cerco total israelita, e a ONU tem avisado que a fome e doenças contagiosas são um risco muito real para os mais de dois milhões de palestinianos ainda no interior do pequeno enclave.
A cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que já tinha cerca de 300 mil habitantes, acolheu nos últimos meses quase toda a população. O governo de Telavive confirmou esta semana que já está preparada uma invasão a Rafah, que Israel espera que derrote, de vez, o Hamas.
A ofensiva israelita arrancou depois de um ataque do Hamas no sul de Israel, que fez cerca de 1200 mortos e quase 250 reféns – sendo que permanecem vivos, em Gaza, cerca de 130 reféns.