Alteração do timbre, da intensidade ou do tom de voz, provocada pelo mau uso das cordas vocais. A disfonia funcional é uma das principais doenças detectadas nos rastreios gratuitos que o Hospital Egas Moniz, em Lisboa, tem vindo a fazer nos últimos anos. Para celebrar o Dia Mundial da Voz, que se comemora nesta terça-feira, 16 de Abril, a Unidade de Voz do Egas Moniz promove rastreios gratuitos. A iniciativa junta o Hospital Egas Moniz, integrado no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, a Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA), uma cooperativa sem fins lucrativos responsável pela gestão dos direitos de propriedade intelectual de artistas, e a Fundação GDA.
Para Clara Capucho, coordenadora da Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz, isto é ainda consequência da covid-19, já que “as máscaras fizeram com que as pessoas tivessem uma barreira a falar e isso fez com que se habituassem a colocar a voz de uma maneira errada”. Ultrapassadas as máscaras, há ainda quem tenha ficado com a funcionalidade das cordas vocais alterada. “Muitas vezes estas pessoas falam e rapidamente ficam roucas e não percebem porquê”, continua a médica otorrinolaringologista. Através de exercícios de reabilitação vocal, é possível reverter a situação e corrigir a disfonia.
Há quase 20 anos que Clara Capucho, otorrinolaringologista e professora na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, abre a Unidade de Voz do Hospital Egas Moniz, que fundou em 2005, para rastreios da voz gratuitos. Estes exames, destinados em especial à comunidade artística, mas abertos a toda a população, pretendem “apanhar as patologias no início para se poder orientar os pacientes e evitar grandes e graves sequelas”.
Clara Capucho acredita que nos últimos anos se tem verificado uma evolução na saúde vocal em Portugal. “As pessoas já gostam da sua voz”, afirma. Participaram, até ao momento, cerca de 50 pessoas nos rastreios que começaram a 12 de Abril e ocorrem até dia 17, quarta-feira.
O rastreio é composto por uma laringoscopia, um procedimento que permite ao médico visualizar a laringe através de um espelho ou tubo de visualização inserido pela boca. Através de iniciativas como esta, é possível detectar precocemente nódulos, pólipos e tumores malignos ou patologias como a laringite provocada pelo refluxo.
É recomendado que todas as pessoas façam um rastreio da voz uma vez por ano, especialmente aqueles cuja profissão depende da voz e fumadores, uma vez que o tabaco é um risco acrescido.
Diagnosticar doenças da voz com IA
O uso da inteligência artificial (IA) pelas indústrias médicas ocupa um papel importante no Hospital Egas Moniz, ao longo deste ano. A Unidade de Voz do Hospital está a colaborar com o grupo de investigação de robótica e manufactura integrada da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, coordenado por José Barata, para a incorporação de IA em tecnologias capazes de diagnosticar doenças da voz.
Desde 2020 que Clara Capucho e José Barata trabalham juntos num projecto que, através de ferramentas de IA, permite diagnosticar a covid-19 através da voz. Os investigadores já criaram um site onde é possível fazer o upload de gravações e perceber se se está ou não infectado com o vírus e esta ferramenta já é utilizada por Clara Capucho, por exemplo, em rastreios. Esta plataforma foi transformada numa aplicação para telemóvel que estará disponível para todos nos próximos meses.
O objectivo é alargar o tipo de patologias que podem ser detectadas através da aplicação. Segundo a otorrinolaringologista, estão a ser estudadas ferramentas que permitam identificar desvios na voz e que sejam capazes de recomendar os exercícios vocais necessários. “A IA pode ajudar qualquer pessoa a encontrar o seu tom natural, e o registo que é confortável para o seu aparelho vocal, diagnosticando eventuais erros de colocação e prescrevendo os exercícios mais adequados à sua anatomia e fisiologia”, afirma a especialista.