A Aliança Ibérica pela Ferrovia propõe que os bilhetes a vender aos futuros espetadores do Campeonato do Mundo de Futebol, a realizar em Portugal, Espanha e Marrocos em 2030, se possam dividir entre ‘bilhetes verdes’ e ‘bilhetes castanhos’.
Os ‘bilhetes verdes’ devem ser mais económicos e funcionar como passe ferroviário válido em qualquer serviço ferroviário da Península Ibérica, bem como nos serviços regulares e flexíveis de transportes públicos urbanos, incluindo serviços partilhados de táxi, TVDE e bicicleta.
Além disso, os “bilhetes verdes” devem ainda permitir o acesso a serviços de alimentação com práticas sustentáveis devidamente acreditados para beneficiar os adeptos portadores dessa tipologia de bilhete.
Já os ‘bilhetes castanhos’ serão mais caros e não incluem viagens de comboio nem aos sistemas de transporte público das cidades-sede, propõe a plataforma que junta 21 organizações sociais, sindicais, económicas e ambientais de Espanha e Portugal com o objetivo de melhorar os serviços ferroviários em toda a península.
A Aliança defende a coordenação dos governos para assegurar ligações ferroviárias diretas entre as cidades-sede. “Cabe aos governos de Portugal e Espanha darem o pontapé de saída para um Campeonato Mundial de Futebol responsável e alinhado com os objetivos climáticos com os quais os dois países estão comprometidos”, sublinha a Aliança num comunicado enviado às redações pela ZERO, que integra a organização ibérica.
Nesta quarta-feira, a Aliança Ibérica pela Ferrovia lança um estudo em simultâneo em Lisboa e Barcelona, realizado por especialistas da Fundació Mobilitat Sostenible i Segura, sobre os tempos de viagem de comboio entre as diferentes cidades-sede que acolherão o Mundial de Futebol na Península Ibérica e em Marrocos no ano de 2030, tendo em conta o desenvolvimento previsto das infraestruturas ferroviárias na Península Ibérica. Segundo a organização, o documento técnico demonstra que é perfeitamente viável organizar um Campeonato do Mundo cujas deslocações têm um impacto climático bastante menor.
A recente decisão do estado francês de eliminar voos entre cidades que possuem alternativas ferroviárias com tempos de viagem inferiores a 2h30, juntamente com a consideração pelo Estado espanhol de uma medida semelhante para pares de cidades com ligações ferroviárias inferiores a 3h00, “deve conduzir o Estado português a planear medidas semelhantes, num momento em que os investimentos na alta velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid, e entre Lisboa e Porto, estão plasmados no Plano Ferroviário Nacional e podem e devem ser acelerados tendo em vista a realização do Campeonato Mundial de Futebol da FIFA”, defende a ZERO.
Recorde-se que, em 2030, com os investimentos previstos nos planos de infraestruturas dos dois países ibéricos, das 12 cidades mais importantes da Península Ibérica, apenas em quatro delas se ficará a mais de 6h30 de comboio, considerado o tempo máximo para que uma viagem diurna de comboio seja competitiva com o avião, e em apenas uma delas a mais de 8h.
“Enquanto a nova linha de Alta Velocidade entre Lisboa e Porto já se encontra num estágio avançado e constitui a coluna vertebral de um sistema ferroviário português, que ambiciona aumentar dos 4% para 20% o número de passageiros que utilizam o comboio nas suas viagens em território nacional, a ligação entre Lisboa e Madrid, canal fundamental para potenciar as ligações ferroviárias ibéricas como um todo, deve ser considerada igualmente prioritária“,ressalta a organização.
Tal exigirá ao novo Governo que “tome a decisão de avançar o mais rapidamente possível para a atualização dos estudos relativos à nova travessia exclusivamente ferroviária entre Lisboa e Barreiro, bem como a ligação entre Barreiro e Évora, seguindo a fase terminal de construção da nova linha entre Évora e Caia”, conclui a ZERO.