Seis meses após o início da guerra entre Israel e o Hamas, os momentos de paz são cada vez mais raros: mais de 120 mil muçulmanos estiveram esta sexta-feira na mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, para celebrar a última sexta-feira do mês sagrado do Ramadão.
Algumas pessoas foram detidas durante o dia por delitos menores, mas não há registo de confrontos com as tropas israelitas durante as orações – “apesar das medidas de deslocação rigorosas e sem precedentes impostas à cidade ocupada de Jerusalém”, apontaram as autoridades da mesquita.
Telavive anunciou há várias semanas restrições à entrada de palestinianos da Cisjordânia ocupada em Jerusalém, dificultando ainda mais o acesso dos fieis à Esplanada das Mesquitas, onde está a mesquita de Al Aqsa.
No final da oração do meio-dia, foram registados pequenos incidentes que resultaram em três detenções: uma por insultos a agentes israelitas, e outras duas por permanência numa área restrita. Durante a oração da madrugada, a polícia informou ter detido oito palestinianos por terem entoado cânticos considerados como “incitamento e apoio ao terrorismo”.
“Estes vis instigadores e apoiantes do terrorismo são residentes no Estado de Israel que aproveitam uma ocasião religiosa e utilizam um local sagrado de oração para incitar e apoiar o terrorismo e os terroristas”, referiu a polícia num comunicado.
No início do Ramadão, há quase um mês, as autoridades intensificaram a presença na Cidade Velha de Jerusalém: o trânsito foi suspenso durante o dia, e o dispositivo policial cresceu para cerca de 3600 agentes.
A presença policial será reforçada hoje à noite, durante as comemorações muçulmanas do Laylat al-Qadr, a noite mais sagrada do ano no Islão e considerada particularmente sensível em termos de segurança.
Entusiasmo durante a intervenção de Hassan Nasrallah, esta sexta-feira, no Dia de Jerusalém
ANWAR AMRO / AFP / GETTY IMAGES
Guerra Israel-Hamas
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Negociações por cessar-fogo retomam no Egipto
Há um mês, o objetivo da comunidade internacional era alcançar um acordo para um cessar-fogo que durasse todo o mês do Ramadão: isso ainda não foi possível apesar das várias tentativas diplomáticas, mas este fim-de-semana o chefe da CIA vai voltar à cidade do Cairo, para voltar a negociar uma trégua que inclua a libertação dos reféns israelitas – uma solução rejeitada pelo Hamas, que exige a retirada de tropas em Gaza e o regresso da população deslocada às suas casas.
O regresso de Bill Burns ao Egipto acontece poucos dias depois de Joe Biden ter deixado um aviso a Netanyahu: ou as forças de Telavive começam a respeitar os direitos humanos em Gaza, ou Washington terá de repensar as suas políticas em relação a Israel. Nesse sentido, o executivo deve alcançar um acordo de cessar-fogo “sem demora”, sublinhou a Casa Branca.
O diretor da CIA vai encontrar-se com David Barnea, chefe dos serviços de informações israelitas (Mossad), e também com representantes do Egito e do Catar – os dois países da região que estão a tentar mediar um acordo entre Israel e o Hamas.
D.R.
Guerra Israel-Hamas
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Os esforços diplomáticos não conseguem acompanhar a velocidade da destruição que vai assolando o enclave palestiniano: a ofensiva israelita já causou mais de 33 mil mortos, a maioria crianças e mulheres, e obrigou mais de dois milhões de pessoas a fugirem das suas casas – que, na sua esmagadora maioria, ficaram completamente destruídas.
Quase metade dos habitantes de Gaza, cerca de 1,1 miilhões de pessoas, estão neste momento a passar por uma “situação de fome catastrófica”: segundo a ONU, é o “número mais alto de sempre” registado em estudos sobre segurança alimentar a nível mundial.
Ahmed Zakot/Reuters
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Outras notícias
> No fim-de-semana em que assinalam seis meses desde o início da guerra, mais de 15 associações portuguesas convocaram uma manifestação de solidariedade com o povo palestiniano, a realizar-se junto à Embaixada de Israel em Lisboa, pelas 15h. A marcha segue depois para o Parlamento.
> Após pressão dos EUA, Israel anunciou que vai permitir a entrada temporária de ajuda através do porto de Ashdod, no sul de Israel, e através da passagem de Erez, que dá acesso direto ao norte da Faixa de Gaza. Já depois da Comissão Europeia ter dado o benefício da dúvida a Netanyahu, o presidente do Conselho Europeu afirmou que as medidas são “insuficientes”. “As crianças e os bebés estão a morrer de fome. São necessários esforços substanciais para acabar imediatamente com a fome como arma de guerra em Gaza”, afirmou Charles Michel.
> Os bombardeamentos israelitas registados hoje no sul do Líbano, perto da fronteira com Israel, mataram pelo menos cinco pessoas – incluindo dois combatentes do grupo xiita Hezbollah, próximo do Hamas. Desde o início da guerra, já morreram 355 pessoas no Líbano, incluindo 234 combatentes do Hezbollah, e ainda 68 civis.